A produção do Mille, ícone da Fiat que
foi o primeiro carro mundial da marca e superou 9 milhões de unidades vendidas
em todo o mundo, foi interrompida em dezembro, depois de quase três décadas de
sucesso. Nada melhor, então, do que dizer muito obrigado. Como se trata de uma
obra-prima do design italiano, o melhor é dizer obrigado como se faz na
península: Grazie Mille!
Mas é bom esclarecer que não se trata
de dizer adeus. Com mais de 3,7 milhões de unidades produzidas no Brasil, o
Mille vai continuar a rodar por aí por muito tempo, fazendo parte da paisagem
urbana e rural de todos os cantos do país.
O modelo, lançado no Brasil em 1984,
conquistou o coração dos consumidores e legiões de fãs devido ao seu design
externo compacto combinado com generoso espaço interno, ótima visibilidade,
soluções inteligentes como o estepe instalado no vão do motor e o limpador de
para-brisa com braço único. Inaugurou no Brasil o segmento dos carros modernos
com motorização igual ou menor que 1000cc.
Para marcar este momento na carreira do
ídolo, a Fiat lançou no final de dezembro a última edição do Mille – a Série
Especial Grazie Mille, com tiragem limitada a 2 mil carros que foram numerados.
Umahistória de sucesso
O Mille é uma versão do modelo Uno,
que foi concebido para ser o primeiro carro mundial da Fiat. O palco
escolhido para sua apresentação à imprensa em 20 de janeiro de 1983 foi o Cabo
Canaveral, atualmente Cabo Kennedy, na Flórida, Estados Unidos. O projeto do
carro inovador começou no final dos anos 1970, com dois estudos: o
143, desenhado pela equipe de Pier Giorgio Tronville, do Centro Stile
Fiat, e o 144, desenhado pela Italdesign de GiorgiettoGiugiaro. O projeto
144 seria direcionado para a Lancia, marca de luxo do Grupo Fiat, mas acabou
aprovado pela Fiat em dezembro de 1979. Em 1982 começava na Itália a produção
em série, após quatro milhões de quilômetros rodados com protótipos.
O Uno foi lançado com conteúdos
inovadores, como as maçanetas embutidas na versão três portas e o limpador de
para-brisa com um único braço, mas de ampla área de varredura. Os bancos
ficavam em uma posição elevada, o que aumentava a impressão de espaço. Este
inclusive é até hoje um de seus pontos fortes. O interior era moderno e
funcional.
Um ponto de destaque eram os satélites
do painel, conjuntos de comandos próximos ao volante, e o cinzeiro corrediço e
removível. Os instrumentos incluíam um sistema de verificação que apontava
defeitos ou irregularidades em diversas funções. Na Europa eram oferecidos
motores de 903, 1116 e 1301 cc, com potência de 45, 55 e 70cv, respectivamente.
Era um veículo com um conceito simples e moderno, com motor transversal, tração
dianteira e suspensão McPherson com mola helicoidal à frente. Na traseira era
usado feixe de molas transversal, com rodas independentes. Foi eleito Carro do
Ano na Europa no mesmo ano.
O Uno foi lançado no Brasil em agosto
de 1984. Veio para substituir o 147, então com oito anos de mercado. Mantinha
as linhas do modelo italiano, mas com uma importante diferença: o capô envolvia
parte dos para-lamas, o que permitia a acomodação do estepe no compartimento do
motor, da mesma forma que no 147, de maneira a ampliar o porta-malas e evitar o
incômodo de ter de descarregá-lo para o acesso ao pneu de reserva.
O Uno representava uma enorme evolução
em relação ao 147, a começar pela redução do coeficiente aerodinâmico (Cx) de
0,50 para apenas 0,36, passando pelo conforto de rodagem, segurança ativa e
passiva, visibilidade e posição de dirigir. Outras alterações em relação ao
modelo italiano de ordem mecânica, previam melhor adaptação do carro às
condições nacionais de rodagem, além do compartilhamento de componentes com o
147.
Deste vinham os motores de 1048 cc a
gasolina (52 cv, 7,8 mkgf), para a versão S, e de 1297 cc a gasolina (58,2 cv,
10 mkgf) e a álcool (59,7 cv, 10 mkgf), para a versao CS. Estes motores tinham
na economia de combustível seu ponto forte.
A fábrica também recebeu melhoramentos
tecnológicos com o lançamento do Uno. Eram necessárias 470 operações de prensa
para construir a carroceria do 147. No Uno o número de operações
reduziu-se para 270, uma otimização
expressiva que significava também menos soldas e, em consequência, maior
resistência do conjunto.
Em outubro de 1985 chegava a versão
esportivo SX, identificada externamente pelo para-choque dianteiro com spoiler
incorporado e faróis de longo alcance, calotas integrais e molduras em preto
fosco
nos para-lamas. Por dentro trazia um
painel completo, incluindo conta-giros e manômetro de óleo, e volante de quatro
raios em vez de dois.
Em 1987 foi lançado o esportivo 1.5R,
sucessor do SX. Era identificado pelas faixas laterais, rodas com calotas que
lembravam discos de telefone, spoiler e o detalhe único da tampa traseira em
preto fosco, qualquer que fosse a cor da carroceria. Por dentro, os cintos de
segurança e uma faixa central dos bancos esportivos eram vermelhos. O motor era
o mesmo 1500 a álcool do Prêmio, porém com comando de válvulas para um
desempenho esportivo, taxa de compressão mais alta e carburador de corpo duplo,
que elevavam a potência de 71,4cv para 86cv, com torque de 12,9mkgf. Com freios
dianteiros a disco ventilado e pneus esportivos, a dirigibilidade do 1.5R,
principalmente em estradas sinuosas, era um prazer, pois, além do ganho na
potência, o carro era dotado de notável estabilidade.
O modelo 1988 do CSL ganhava melhorias
no motor 1500 que o aproximavam ao do 1.5R, passando a 82cv e 12,8mkgf. A linha
Uno 1989 chegava com novos acabamentos e melhoria de conforto como principais
novidades. As versões mais luxuosas ganhavam um painel mais tradicional e
refinado. O Uno 1.5R ganhava novo grafismo nas laterais, amortecedores
pressurizados e rodas de alumínio. A suspensão teve a geometria revista, para
menor desgaste dos pneus. Os retrovisores ficaram mais amplos e os bancos
dianteiros ganhavam rebatimento mais leve e prático na versão três portas.
Foi, porém, em agosto de 1990 que a
Fiat lançaria um produto que revolucionaria o mercado de automóveis: o Uno
Mille. Este modelo inaugurou um segmento que hoje representa cerca de 40% do
mercado. Esta versão de 994,4 cc do
conhecido motor foi lançada apenas 60 dias após a redução tributária efetuada
pelo Governo Federal. Modelos de 800 a 1000 cc passavam a ter alíquota de 20%
do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), metade do praticado até
então. O motor de 48cv e torque de 7,8mkgf tinha como pontos fortes a rapidez
com que subia de giros e a suavidade de funcionamento, o que proporcionava a
este veículo agilidade.
O Uno Mille podia acelerar de 0 até 100
km/h em 21s e atingir 135km/h. A concorrência só daria as primeiras respostas
ao Mille um ano e meio depois. Com a chegada do Uno Mille, neste mesmo período,
as versões com motorização e acabamento superiores receberam algumas mudanças
estéticas: um novo frontal com faróis com nova grade de perfil baixo e o
para-choque. As versões CS e 1.6R passavam a oferecer bagageiro no teto sendo
que, neste último, teto solar com deslocamento externo e comando manual. No ano
seguinte surgiu a série limitada Mille Brio, com carburador de corpo duplo e 54
cv de potência.
Em novembro de 1992, a Fiat lançou o
Mille Electronic. Este modelo contava com ignição digital , que permitia alta
taxa de compressão, e carburador de corpo duplo. Este modelo superava
facilmente os
adversários em potência (56,1cv),
torque (8,2mkgf), velocidade máxima e aceleração. Era o 1.0 mais rápido.
O Uno Mille foi também o primeiro 1.0 a
oferecer uma versão com cinco portas e ar-condicionado que era dotado de
mecanismo automático que cortava a energia destinada ao compressor durante
acelerações a fundo para facilitar retomadas e ultrapassagens. Ficou conhecido
como Mille ELX, e trazia ainda um frontal novo, volante de quatro raios, novo
quadro de instrumentos, pneus 165/70, ar-condicionado, vidros e travas
elétricas. Esta versão também era oferecida em três ou cinco portas. Era uma
versão popular de luxo.
Ainda em 1994 a Fiat inovaria novamente
com o lançamento do primeiro turbocompressor original de fábrica do Brasil: o
Uno Turbo i.e. Esta versão era equipada com motor de 1372 cc produzido na
Itália, utilizava resfriador de ar (intercooler), radiador de óleo e atingia
potência de 118cv e torque máximo de 17,5mkgf, valores similares aos de um
motor 2.0 de aspiração natural. A velocidade máxima era de 195 km/h e acelerava
de 0 a 100 km/h em apenas 9,2 s. Os primeiros proprietários tiveram direito a
um curso de pilotagem, iniciativa inovadora no mercado.
O modelo contava também com rodas de
14” e pneus 185/60, para-choques e minissaias esportivos, bancos envolventes,
volante de três raios exclusivo e quadro de instrumentos completo, incluindo
manômetros de óleo e de turbo e termômetro de óleo, o que realçava a
esportividade do interior.
Em julho de 1995 a Fiat introduziu a
injeção eletrônica no Mille. Desta forma a versão ELX passaria a ser denominado
EP e o Eletronic passava a i.e. A potência chegava a 58cv, a maior do segmento.
No fim daquele ano, a Fiat revelava imagens do Palio que chegaria em abril de 1996
com a
missão de aposentar o Uno. A estimativa
era que as versões 1.5 e 1.6 sairiam de linha ficando apenas o Mille como opção
mais acessível, por pouco tempo.
O mercado, no entanto, mantinha o
desejo pelo Mille e em 1997 a linha era concentrada na versão SX, de acabamento
intermediário entre as anteriores, que incluiu a série limitada Young, com
painel de fundo claro e adesivos decorativos. Em 1998 a versão SX torna-se EX e
em março de 2000 esta cedia lugar à versão Smart que trazia nova grade e volante
de quatro raios. Em julho daquele ano o Uno recebia o motor Fire de 55cv.
No inicio de 2004, o Uno sofreu sua
mais significativa reestilização. A parte frontal foi totalmente remodelada com
novos faróis, nova grade, novos para-choques (o traseiro com placa
incorporada), novo capô, nova tampa traseira e novas lanternas. Em 2005 chegava
ao mercado o Uno Mille com tecnologia Flex e frontal com novas grades.
Em 2006, a Fiat disponibiliza no
mercado o kit Way, composto de amortecedores de curso mais longo, 4 centímetros
a mais de altura livre em relação ao solo, molduras de para-lamas exclusivas,
soleiras e caixas de roda pintadas em preto fosco.
Em agosto de 2008, a Fiat lançou uma
versão ainda mais
econômica do Fiat Uno, denominada Mille
Economy, com a mesma potência da versão anterior, porém com novas regulagens
de motor, suspensão e novos pneus com baixa resistência ao rolamento, que
o tornaram cerca de 10% mais econômico.
Em maio de 2010, a Fiat lançou o Novo
Uno, equipado com os motores Fire 1.0 Evo e o Fire 1.4 Evo, ambos
flexfuel, que incorporam modernas tecnologias para garantir economia de
combustível e baixo nível de emissões. O premiado desenho do novo modelo nasceu
de intenso diálogo entre os designers do Centro Estilo Fiat para América Latina
e Centro Estilo Fiat da Itália e os consumidores. O primeiro passo era
identificar como o Fiat Uno era visto pelo mercado. Resposta: um ícone, um
parâmetro de longevidade, um carro robusto, confiável e econômico – tanto na
hora da compra quanto da manutenção e do consumo de combustível. Uma história
de sucesso de formas quadradas, bem distante das linhas afiladas e arredondadas
da maior parte dos modelos no mercado atualmente.
Dentro desse universo, foram propostos vários conceitos. O vencedor foi o conceito “Round Square”, ou quadrado arredondado, que norteou todo o desenvolvimento do novo carro. E o que, exatamente, é um quadrado arredondado? Partindo do ícone Uno e suas formas quadradas, os designers cunharam o novo quadrado – pop e moderno. Ou seja, a releitura do quadrado. Uma evolução. O novo Uno, que conquistou seu espaço no mercado e conviveu, de 2010 até agora, com o Mille.
Fonte e foto: Assessoria de Imprensa Fiat.
Nenhum comentário:
Postar um comentário